terça-feira, 15 de junho de 2010

Uma análise sobre abordagem da mídia sobre a biotecnologia/biodiversidade

Através de uma contagem das capas da Revista VEJA,sobre quantas vendem o tema Biotecnologia/genética/biodiversidade como matéria principal obteve-se os seguintes resultados:

Em 2009, foram 13 das 49 capas vendidas.

Em 2010,até o momento foram 6 das 23 capas.

E uma média de 1 capa por mês sobre tal tema.

Percebe-se em várias reportagens, a falta de estudo pela matéria publicada,ou seja, são textos que não são científicos e abordam em sua maioria curiosidades como meios de fofoca, ou ‘invenções’ feitas para ‘encher’ a reportagem.

Observa-se, também, a freqüente tendência e o super sensacionalismo gerado pela mídia ao abordarem estas temáticas.

Cito a reportagem capa: O cérebro do gênio – Edição n°2135, de 28/10/2009, pagina 96 a 105, na qual demonstra um falso texto cientifico que na verdade não passa de mera fofoca sobre a vida de Albert Einstein.

O que pude perceber foi que divulgação científica é feita na mídia em forma de espetáculo. Sendo essa afirmação uma comprovação em âmbito social,tais temas produzem apenas curiosidade ou seja, existe pouco interesse em informar à população o que realmente esta acontecendo na prática e quais impactos essas mudanças tecnológicas aconteceriam em nossa vida social.

Além disso, a população, por sua vez,acaba por demonstrar desinteresse em saber de maneira cientifica o que realmente acontece.

Os temas de biodiversidade da revista também não demonstram ou não refletem a complexidade do fazer científico e raramente apresentam os conflitos entre as diferentes vozes da ciência.

Porém não digo que a ciência como entretenimento é ruim pois a cultura de massa não agüentaria ler um texto exclusivamente cientifico, a crítica maior está na banalização da ciência.

Lucas N.T

Genética Vs. Estética

A modificação genética com o objetivo eugênico, tem sido alvo de grande polêmica atualmente sobre questões éticas e morais. Os engenheiros genéticos afirmam que a tecnologia de manipulação genética é segura.

Hoje em dia, podemos ler e ouvir em todos os lados que a genética está a evoluir tão depressa que já é possível escolher o sexo do bebé e manipular o seu DNA determinando certas características que queremos que o nosso filho possua.

A primeira grande conseqüência disso será provavelmente a extinção total de grande parte das doenças genéticas .

Outro impacto importante disso será a do aperfeiçoamento das funções normais do corpo. Não se trata de corrigir problemas de saúde, portanto, do ponto de vista ético, é uma coisa muito mais problemática (e inaceitável para muita gente, religiosa ou não). Por exemplo, modificar genes que influenciam a inteligência da criança que vai nascer, aumentando-a. Ou programar a cor dos olhos, da pele e dos cabelos. Ou mudar tendências genéticas de temperamento, personalidade, preferências sexuais, etc. Até aqui, tudo bem, pois afinal são coisas que ocorrem naturalmente nos seres humanos, e é apenas uma questão de aumentar, diminuir ou trocar.

Se essa possibilidade existe, com certeza será utilizada pela população. Os conceitos éticos e morais que temos hoje, evoluiram muito em relação ao passado, sob o impacto das descobertas científicas e das inovações tecnológicas. Por exemplo, a maioria da população não acha nada demais tomar um medicamento para impedir a gravidez, quando isso era inaceitável moralmente há menos de 50 anos atrás. O mesmo vai acontecer com as novas biotecnologias.

Bernardo Lima

O Ovo da Serpente


Em preto e branco, num plano fechado, pessoas andam pela rua em câmera lenta, na direção da filmadora. Essa é a cena de início de “O Ovo da Serpente”, um dos filmes em que Ingmar Bergman disse ter fracassado. Logo no começo, nos é apresentado o contexto da Alemanha pós Primeira Guerra Mundial: pobre, com uma inflação exorbitante e seus habitantes tristes e desiludidos. O americano Abel Rosenberg chega em casa e descobre que seu irmão suicidara-se. A causa era desconhecida. Ambos haviam se mudado para Berlim juntamente com Manuela para acompanhar um circo, no qual trabalhavam. No interrogatório, a pergunta chave: “Você é judeu?” Sim, Abel o é. Na carta deixada por Max (o homem que morrera) distingue-se apenas a frase: “Está havendo envenenamento”. De fato, várias outras mortes misteriosas vinham ocorrendo.

O filme tem um clima tenso, delineado pelos crimes cometidos por judeus e pelo governo passivo. Devido às dificuldades financeiras, Manuela e Abel moram com uma velha que é a primeira representação de um estado nazista, uma espécie de carrasco. “Você esteve chorando?” Ela pergunta. A casa ampla, com vários penduricalhos e tralhas antigas, nos remete ao filme “O Silêncio”.

A crise de Abel se dá quando ele percebe que a discriminação racial havia começado. Ele, por ser judeu, estava em desvantagem.

A ingênua Manuela, cada vez mais esquisita, provavelmente doente, procura o perdão da igreja. Sua sanidade começa a se abalar. A pergunta ao padre: “Ajudaria?” recebe a resposta: “Não sei”, que resulta na tentativa do eclesiástico de apelar ao perdão mútuo. Eles se perdoam, ela pela morte do marido, ele pela indiferença com relação a tudo.

Nessa altura, temos a primeira evidência concreta de que um período discriminatório estava por vir. Alemães invadem um cabaré e quebram o nariz do judeu anfitrião. O caos reina, cada vez mais. O barulho de uma máquina, simbolizando todo o sofrimento, enlouquece os sãos. Os corrompidos pelos mistérios já não a escutam mais. A fome e a dificuldade financeira são mostradas quando uma mulher estende as mãos para oferecer a carne crua de um cavalo morto. A cena da incapacidade sexual do negro perante uma prostituta é também a impotência da biodiversidade, da variabilidade étnica.

Manuela morre em nome do ‘Mistério’ no tempo em que o protagonista descobre que estava sendo espionado na própria casa. Após uma seqüência tensa, Abel chega no subsolo da clínica Santa Anna, onde encontra Hans Vergerus, um velho amigo de infância que, quando criança, abria o peito de gatos vivos para ver seus corações baterem. Ele explica todo seu complexo plano. O fim justifica o meio. O fim? Melhorar a espécie humana. O meio? Fazer experimentos com homens vivos.

Uma mulher é colocada com um bebê que, devido à lesão cerebral, não pára de chorar. Ela o sufoca depois de algumas horas. Um homem fica imóvel, num ambiente escuro e sem nenhum som durante sete dias. Quando é libertado, está apático, incapaz de andar e, até mesmo, sem reflexos. Um rapaz recebe uma injeção contendo uma toxina que provoca uma terrível angústia. A cena é desconcertante. Mesmo depois de passado o efeito, o jovem se suicida (Rosenberg descobre que seu irmão foi vítima da mesma experiência). Um casal é exposto a um gás que desvia o ser humano de seu comportamento racional. Eles passam a ser movidos por impulsos instintivos. Hora se batem, hora se amam. Enlouquecem. O mais assombroso é que todos os “objetos de estudo” eram voluntários. Num tempo de insegurança econômica, as pessoas estão dispostas a muita coisa por dinheiro.

Hans está disposto a fazer tudo pela ciência. Acredita piamente que suas descobertas serão úteis anos à frente. Ele se refere a Hitler como um cabeça-de-vento (mesmo tendo este um suicídio idêntico ao seu) e prevê seu fracasso inicial. Realmente, o futuro ditador não teria como derrubar, naquela época, a “força da democracia alemã”.

Ao final, voltam as imagens do início. Pessoas fatigadas e humilhadas andam pelas ruas. Nesse estado, elas não seriam capazes de apoiar uma revolução. Mas dez anos depois, no começo do nazismo, quem antes era jovem se tornara adulto e herdara dos pais o mesmo cansaço e humilhação, porém acrescidos de impaciência e idealismo que criarão uma defesa liderada por um dos mais famosos ditadores de todos os tempos. Os experimentos de Hans seriam úteis nesse sentido, pois tem a pretensão de melhorar o homem. Estimulam a discriminação racial e têm o fim de padronizar o ser humano. Eles compõem o “ovo da serpente”. A semente do Holocausto. Um ovo no qual, por detrás da fina membrana externa, já se pode “distinguir perfeitamente o réptil já formado”.


Felipe de Oliveira
2010

A Abordagem Cinematográfica da Influência Científica

Caiu-se, hoje, no lugar comum de criticar a mídia e levantar suas teorias conspiratórias. Ela é, sem dúvida, tendenciosa e distorce os fatos, mas de que jeito? Nos veículos de comunicação mais populares, como jornal e televisão, isso está mais evidente, mas e quando a mídia se confunde com a arte? É necessário ressaltar que a imparcialidade total é impossível, sendo assim, me proponho a “passear” pela história do cinema, mostrando os diversos tratamentos da ciência dentro da sétima arte.

Na década de 30, entrou em vigor na Alemanha um regime que aterrorizaria os judeus por mais de dez anos: o nazismo. Entre outros fatores, Hitler impressionou o mundo pela frieza com que pretendia selecionar os “melhores” genes da espécie humana e criar uma raça pura, a dita ariana. Como chegar a esse nível de perfeição? Fazendo experiência com pessoas vivas. Em 1979, mais de 30 anos após o Holocausto, Ingmar Bergman decidiu fazer um filme sobre o homem, porém sob a ótima do nazi-fascismo. “O Ovo da Serpente” chocou o mundo pela crueza e pela violência com que tratava, ineditamente, de alguns fatos que influenciaram a Segunda Guerra. É, sem dúvida, uma reflexão da crueldade humana, mas acima de tudo, é uma análise profunda sobre a “mania de superioridade” que acomete nossa espécie. A mídia não está alheia a essa obsessão. A comunicação representa poder e os donos dos grandes meios sempre foram poderosos. Assim disse Glauber Rocha: “O homem é mais difícil de dominar do que a massa”. A população pode agir de forma insana, como um cardume de peixes, sendo que a mídia tem influência decisiva nesse comportamento. Um humano, sozinho, é mais racional do que em grupo, pois juntos nós temos a coragem de realizar feitos que não faríamos se estivéssemos sós. Como formadora de opinião, a mídia é uma das mais responsáveis pela alienação do grande público.

Em 1972, um dos diretores mais aclamados mundialmente realizou uma de suas duas grandes obras primas, que também é a mais polêmica: Laranja Mecânica. Kubrick delineia, mesmo sem saber, um assunto que seria amplamente discutido décadas à frente: a bioética. Até que ponto a ciência é capaz de interferir na vida do ser humano? Até onde essa interferência se faz plausível e sensata? Na película, Alex é um delinqüente que, após ser preso por assassinato, é iniciado por vontade própria num programa de reeducação da postura ética. O problema é que o sistema proposto inibe o livre arbítrio do cidadão, uma vez que, começado o suposto “tratamento”, não há volta nem desistência. A massa acredita piamente nas verdades científicas, desde que sejam anunciadas por um bom “homem da ciência”. Mas esse poder dado aos cientistas não costuma ser bem utilizado e é, sempre, superestimado. A tecnologia tem sido direcionada, cada vez mais, para a medicina. Nesse âmbito, chegamos ao ponto de reproduzir a vida em laboratório. Com isso, o quadro das doenças muda radicalmente, assim como muda a reprodução humana e a nossa noção de liberdade, a exemplo: será possível selecionar genes preferidos na concepção do bebê a porvir. Situações como a citada no filme já foram projetadas e, claro, interfeririam na capacidade de escolha de cada um. Mas qual o papel da mídia nisso tudo? É ela quem dita os valores sociais. A ousadia e a quebra das regras são freadas e/ou ditadas por ela, por isso é necessário cuidado na hora veicular sua produção a um meio de informação e também na hora de analisá-lo.

Por fim, cito o filme Gataka, que trata de uma sociedade futurística que atingiu um nível em que existe a capacidade de escolher os genes queridos para os filhos. Conduzindo a vida, o homem não estaria se propondo a superar a própria espécie? Caso isso ocorresse, simplesmente deixaríamos de ser humanos. O preconceito tomaria formas inimagináveis, já que nada menos que a perfeição seria aceito. Todos seriam lindos, inteligentes, fortes e saudáveis (em padrões organizados pela mídia, é claro). Mas a grande pergunta é: onde estará a biodiversidade? Sumirão as comunidades multiétnicas e multilíngües, a cultura será padronizada e a arte, ora, o que deveras será da arte?

O sensacionalismo midiático não é novidade, mas poucas vezes é questionado. Vivemos num tempo em que a informação corre numa velocidade assombrosa. Falta-nos um filtro para distinguirmos o que é relevante do que não é, o que verossímil do que não é. Na ausência da criticidade, ficamos ao léu, à margem das possibilidades que a tecnologia pode nos oferecer. Estando alienados, nos tornamos presas fáceis para o turbilhão em que a mídia nos insere. O cinema é qualificado como arte, mas não é por isso que deixa de ser um formador de opinião. A universalização da sétima expressão artística tem importância colossal no processo de amadurecimento da sociedade. Uma prática tão popular como ir ao cinema implica numa grande responsabilidade por parte dos produtores, já que hoje, todos podem o ser. Se a massa não tem acesso à educação de qualidade ou a uma formação crítica decente, é necessário o apelo à popularização da arte. Dizendo, especificamente, do cinema, ele não só interage com todas as artes e suas tecnologias, como também é uma excelente forma de adquirir conhecimento.


Felipe de Oliveira
2010

Filmes Citados:

*O Ovo da Serpente (Ingmar Bergman, 1979)

*Laranja Mecânica (Stanley Kubrick, 1972)

*Gataka

www.comciencia.br

www.cineclubecriticasdefilmes.blogspot.com.br