terça-feira, 15 de junho de 2010

Os enfermos e o dilema da eutanásia

O problema em relação aos pacientes em estado terminal, vegetativo ou de porcentagem irrelevante à sua sobrevivência, é uma questão que vem sendo discutida há anos em todo o mundo.

A prática da eutanásia está cada vez mais freqüente em hospitais do mundo todo com o apoio de familiares, que, vendo o sofrimento e sem esperança de recuperação de seus entes queridos, optam por sua morte. Quando a questão se torna impessoal, ou seja, quando a escolha não é tomada pelo doente, entram os assuntos éticos de até que ponto o outro pode interferir tomando decisões alheias para preservar a saúde e o bem – estar de quem gosta.

No Brasil, um caso de 1970 chamou atenção populacional quando um paciente com encefalite (inflamações agudas no cérebro), já completado dois anos de um avançado tratamento intensivo, parecia não mais respondê-lo, e, após grande resistência familiar, um dos médicos envolvidos com o caso decidiu acabar com seu sofrimento. Sendo assim, as drogas e as condições artificiais foram suspensas, mantendo o paciente apenas á base de alimentação. Esse veio há falecer duas semanas depois!

Casos polêmicos também foram registrados na Alemanha, quando em 1984, Wilhelm Rasche, médico, praticou ao longo de 35 anos inúmeros atos de morte em mais de 700 pacientes, sem que ninguém desconfiasse. Em sua defesa, o doutor declarou que seus enfermos sofriam de doenças incuráveis e monstruosas, e que, como ser humano não conseguia assistir ao sofrimento daqueles dos quais tratava.

Em 2005 o mesmo drama foi existido pela americana Terri Schiavo de 41 anos, que já passava os últimos 15 em estado vegetativo. O grande problema era o impasse que ocorria em sua família, devido a uma discordância de opiniões para a solução da condição da consorte. Os pais enfrentavam uma batalha judicial contra o médico e o marido de Terri que era o guardião legal e clamava pela eutanásia.

Nesse meio de interesses sociais e pessoais há vários motivos que levam ao exercício da eutanásia, o mais comum é a justificativa do sofrimento daquele que não consegue se manifestar em decorrência de uma doença em alto grau de destruição. Outro ponto colocado pelos médicos para justificar a prática, é que, acabando com esse sofrimento, pode-se dar lugar a pacientes com mais chances de recuperação, ou, até mesmo porque a própria família já não suporta ver o padecimento daquele que está hospitalizado.

Por outro lado, não só a lei, mas também a religião aponta a eutanásia como algo ruim. Causar a morte de alguém é considerado um ato pecador e contra as regras éticas sociais, pois nenhuma pessoa tem superioridade à outra para julgar tal decisão como correta e benéfica.

Embora sendo um assunto muito polêmico e uma prática pouco aceitada no mundo moderno, países da Europa como a Holanda e a Bélgica já a legalizaram, enquanto o resto do continente se mantém aberto a ela em algumas circunstâncias.

O caso da eutanásia se torna em certo ponto mais fácil quando o paciente consegue expressar o que deseja como finalidade para seu estado depressivo.

Com base no filme Patch Adams, tais taxas depressivas são identificadas a partir do momento em que o paciente começa a se sentir isolado pela família, pela falta de diversão ou apenas da sensação de liberdade, já que passa todo o seu tempo preso em um bloco de quatro paredes, ligados a soros e sem qualquer recurso que o ajude a curtir um pouco desse tempo.

Mas e quanto àquele que não consegue se expressar verbalmente ou fisicamente?A estes também é possível ajudar!Não significa que uma pessoa em estado vegetativo não tenha seus próprios pensamentos, suas vontades ou suas reclamações a fazer. Esta condição não impede que o médico leve o paciente para dar uma volta ao ar livre, ou que alguém lhe conte algo interessante ou lhe agrade com alguma surpresa.

É claro que os remédios fazem diferença no tratamento de uma situação crítica, mas a principal diferença é a psicológica. Nada faz mais efeito para a recuperação ou melhora de um enfermo do que o apoio e a presença da família, e o carinho, que é uma arma poderosa quando o assunto é angústia e sofrimento interior.

Se algumas situações hospitalares fossem restabelecidas dentro do âmbito, muitos problemas vividos por aqueles que lá se encontram, seriam resolvidos, e a eutanásia poderia deixar de ser uma opção em várias ocasiões.

Além disso, quantas pessoas com humildes chances de viver em todo o globo já tiveram recuperações incríveis, algumas, inclusive completamente, quando se achava não mais ser possível?!

Mas, e você leitor deste artigo... Você ousaria tomar a decisão de matar alguém cuja vida fora abalada pela doença e se encontra em profundo desespero?

Você aceitaria a morte de uma pessoa para que se pudesse abrir vaga a outros doentes com chances de recuperação?

Entregaria a vida de um ente querido a um veneno que o mataria em questão de minutos, sem que tu pudesses escutar ou entender suas vontades, tomando como base apenas suas próprias suposições?

De fato, a eutanásia é algo que precisa ser amadurecido para tentar encontrar um ponto de equilíbrio entre nossas emoções e a escolha que fazemos, partindo, muitas vezes, do pressuposto de o que o outro quer. Afinal esse é um jogo sério, e a saúde, o bem-estar e o respeito ao fulano está em suas mãos e é dependente apenas a duas palavras: sim ou não à eutanásia.

Por Luísa Alves

16/06/2010

Dica de filme: "Mar Adentro"

Um comentário:

  1. mesmo com todos os medicamentos existentes e todo carinho e atençao dda familia e ate amigos, ainda existe a questao do sofrimento do individuo em questao, ate que ponto é justo submeter uma vida humana a sofrimentos e dores incomensuraveis apenas para adia em meses semanas ou dias o inevitavel? quando o paciente ja nao tem a menor qualidade de vida? e ja nem sente prazer em mais nada ligado a vida aqui!!?

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